domingo, 9 de março de 2008

Abandonando figos na saída de Naxos


Dizem que toda borboleta tem seu tempo de lagarta. Espero que o meu passe rápido. Ariadne me acena com a mão de sua imóvel condição em Naxos e, desta vez, sou eu que escolho partir da ilha em busca do mar. Sylvia também me olha assustada. Já não quero tanto seus figos roxos, sempre prestes a cair, maduros demais. Quero o agora com suas incertezas. É hora de acenar para Deméter e partilhar os grãos de romã. Ou simplesmente aceitar que as romãs são um rito. Não há como evitá-las. Mesmo quando sangra. Por dentro e por fora.


Não escolho deixar Ariadne e Sylvia e Deméter sem uma certa tristeza. São partes inflamadas de mim. Como diz Ricardo Reis, "Em tudo que olhei fiquei em parte"... Também ele devo empacotar e esquecer na gaveta. Catucar feridas é adiar a vida e justificar o não-momento.


Que as horas boas e más fiquem no seu lugar, coladas no tempo, como moscas. É tempo de lançar novas sementes e colher poesia nova. Que venham as tempestades. Não tenho medo delas, já que sempre lançam água em território adormecido. Também não tenho medo de Naxos. Nem de figos ou romãs. Que passem todos e eu possa celebrar, no dia seguinte, a chegada de mais uma manhã.


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