domingo, 30 de março de 2008

O apetite de Saturno e a morte dos grandes amores

Penso nos grandes amores que morrem. Silenciosos. Sem gritos. A deixar-se engolir aos poucos pelo escuro incerto de mais um dia que vai... a desfazer-se na saliva corrosiva de Saturno - senhor do Tempo e da razão que perdemos.

Não há como não chorar pelos momentos idos, mastigados, triturados sem vacilo. Os dentes implacáveis de Saturno dilaceram a carne dos amores. Nem os filetes de memórias - notas trôpegas que ainda suscitam logínquas melodias - restam inteiros.

Esta é a parte mais triste. A espuma do esquecimento gela os nervos, e o último fio entre impulso e lembrança se desfaz. Mesmo correndo em sua direção, o impulso já não chega a tempo. A voz é débil, os braços não atingem mais a lembrança - que, solitária e cansada, acelera o passo e, já esquecida, alcança a próxima esquina.

***

"Entre mi amor y yo han de levantarse
trescientas noches como trescientas paredes
y el mar será una magia entre nosotros.

No habrá sino recuerdos.
Oh tardes merecidas por la pena,
noches esperanzadas de mirarte,
campos de mi camino, firmamento
que estoy viendo y perdiendo...
Definitiva como un mármol
entristecerá tu ausencia otras tardes".
Borges, J. L.

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