domingo, 18 de janeiro de 2009

Palavras líquidas


Um olhar.
E tudo dito na escassez de palavras.

Palavras como peixes que se afogam no ar
A água pra sempre longe do seu alcance.

Feito folhas mortas, as palavras já não servem.
Desmancham-se a um passo do sentido
Só que não se pode abortá-las.

Pontiagudas como lascas de maçã,
Arranham a garganta. Não descem.
Vomitá-las também já não é possível.

Astutas, porém
Liquefazem-se nos olhos
retirando o verniz cotidiano das retinas.

Lavam impressões

Sinuosas e ágeis como serpentes
As palavras líquidas removem vestígios
O amor já não é listrado

Os indícios da memória apagam-se como fantasmas ao sol
Cinzas de papel de arroz
O corpo transborda em confissões líquidas
na tentativa de tudo dizer ao olho silente que espreita

***

Palavras escorrem
Desafiando a gravidade das certezas
Desfazem traços, lavam restos,
Sulcam novos cursos d´água entre as marcas do tempo

O verbo líquido abre um mar
e, por ele, erguem-se novas travessias