sexta-feira, 6 de junho de 2008

Sobre a sorte e as escolhas que fazemos


Gabor: I´m going to tell you a story.
Long ago, I lived on the even side of a street, at the number 22.
I gazed at the houses across the street, thinking the people were happier,
their rooms were sunnier, their parties more fun.
But in fact their rooms were darker and smaller
and they, too, gazed across the street.
Because.. We always think that luck is what we don´t have.
I´II wait at the station.
If you don´t show, I´ll know you went.

Adèle: Went where?

Gabor: To see if the other side´s better.

La Fille sur le Pont, de Patrice Leconte.

***

A Mulher e o Atirador de Facas, nome com que ficou conhecido no Brasil, é daqueles filmes que marcam profundamente quem vê. Longe das receitas hollywoodianas de felicidade, La Fille sur le Pont fala sobre as oportunidades, sobre os encontros que podemos lamentavelmente não reconhecer e, sobretudo, sobre a sorte. Não a sorte que uns têm e outros não. Mas aquela que transita diante de nós e que nos convida a mudanças viscerais.

Por isso, Adèle e Gabor são, logo de início, representações dos desencontros cotidianos. Gabor vê Adèle em uma das pontes de Paris e não mede esforços para transformá-la no seu amuleto. Adèle segue Gabor sem grandes resistências. Ninguém a espera. E sem uma direção definida, qualquer caminho é melhor que a imobilidade.

Se Gabor é a irresponsabilidade medida, Adèle é a distração atenta. Atenta para que nenhuma história crie raízes. Talvez por isso ignore a seriedade indecisa de seu parceiro, a oscilar sempre entre embevecido e rigoroso. Gabor observa. Se embriaga com o que vê em Adèle - energia cercada de sorte por todos os lados.

O encontro entre Adèle e Gabor poderia nunca ter acontecido, não estivesse ela a ponto de se lançar no Sena e ele à procura das suicidas de plantão. Sinal de que a sorte pode sugir das situações mais extremas e inusitadas. Se por sorte entendemos, é claro, toda oportunidade de deter o tanto de morte injetado em nossas vidas.

La Fille sur le pont é, portanto, um convite às apostas que nunca fazemos. Fala de encontros improváveis, de trens e rotas inesperados. De desvios que, só em situações limites, imaginamos. Ou, trocando em miúdos, de amores impensáveis que teimam em ganhar forma - como plantas resistentes - no meio do asfalto.

***

Alguns trechos e traillers de La Fille sur le Pont:

Trailler 1:
http://www.youtube.com/watch?v=m0WwIqtkG3Y&feature=related

Trailer 2:
http://www.youtube.com/watch?v=KFvZsTX0fiU&feature=related

Trailer 3:
http://www.youtube.com/watch?v=o2yGEmXIfuk&feature=related

Trailer 4:
http://www.youtube.com/watch?v=5e4I02kLOaw&feature=related

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