Relações de afeto. Meu tema preferido.
Penso no modo como as pessoas entrelaçam suas histórias. Algumas por afinidade. Outras por atração. Mas muitas, realmente muitas, por sobrevivência.
A sobrevivência destila o afeto na corrente sanguínea. Cria nó górdio entre aqueles que ainda ontem eram estranhos. Nos torna anfíbios de sentimento: ávidos por líquidos que nos amoleçam; rígidos para o chão que nos recebe.
Ser anfíbio é ser sobrevivente. É também fazer-se invisível, camaleônico. É saber prender-se de outro modo onde o chão falta, onde os olhos enganam e de nada servem. Em terreno túrgido, outros sentidos são necessários. Onde os olhos encontram barro, afundam-se os pés. Onde a água parece certa, a terra brota teimosa e contra todas as evidências. Mangues e corações: equivalências de um mundo em permanente definição.
***
Demiurgo estranho, o mangue confere vida ao que parece morto, ao que é feito de pedaços inanimados. Faz sementes germinarem em terreno improvável, feio, fétido. Por isso é a melhor imagem para os encontros humanos - que por baixo da lama escura que é o passado-nosso-de-cada-dia, faz nascer novas histórias. Novos cordões de terra e de água.
Fios. Laços. Cabeleiras vegetais agitando-se sob um mundo líquido. Tão imprecisas que se confundem com a areia.
Entre a terra e a água, o encontro improvável. A água dissolvendo a terra e ameaçando sua estabilidade. A terra consumindo a água, encharcando-se dela, até que nada sobre. Dos dois, a lama. E com ela, o ser anfíbio. Aquele que sobrevive, que testemunha, que confere a medida e a fecundidade das coisas.
É na lama que o mundo toma forma.
Que o que é fértil toma corpo.
Que os amores amadurecem, improváveis. Como filamentos verdes em meio ao que antes parecia cimento.
Penso no modo como as pessoas entrelaçam suas histórias. Algumas por afinidade. Outras por atração. Mas muitas, realmente muitas, por sobrevivência.
A sobrevivência destila o afeto na corrente sanguínea. Cria nó górdio entre aqueles que ainda ontem eram estranhos. Nos torna anfíbios de sentimento: ávidos por líquidos que nos amoleçam; rígidos para o chão que nos recebe.
Ser anfíbio é ser sobrevivente. É também fazer-se invisível, camaleônico. É saber prender-se de outro modo onde o chão falta, onde os olhos enganam e de nada servem. Em terreno túrgido, outros sentidos são necessários. Onde os olhos encontram barro, afundam-se os pés. Onde a água parece certa, a terra brota teimosa e contra todas as evidências. Mangues e corações: equivalências de um mundo em permanente definição.
***
Demiurgo estranho, o mangue confere vida ao que parece morto, ao que é feito de pedaços inanimados. Faz sementes germinarem em terreno improvável, feio, fétido. Por isso é a melhor imagem para os encontros humanos - que por baixo da lama escura que é o passado-nosso-de-cada-dia, faz nascer novas histórias. Novos cordões de terra e de água.
Fios. Laços. Cabeleiras vegetais agitando-se sob um mundo líquido. Tão imprecisas que se confundem com a areia.
Entre a terra e a água, o encontro improvável. A água dissolvendo a terra e ameaçando sua estabilidade. A terra consumindo a água, encharcando-se dela, até que nada sobre. Dos dois, a lama. E com ela, o ser anfíbio. Aquele que sobrevive, que testemunha, que confere a medida e a fecundidade das coisas.
É na lama que o mundo toma forma.
Que o que é fértil toma corpo.
Que os amores amadurecem, improváveis. Como filamentos verdes em meio ao que antes parecia cimento.
1 comentário:
Have a nice, safe and wonderful weekend
Enviar um comentário