terça-feira, 27 de maio de 2008


"Nunca tive boa memória, sempre sofri essa desvantagem: mas talvez seja um modo de recordar apenas o que se deve, talvez a maior coisa que nos aconteceu na vida, a que tem algum significado profundo, a que foi decisiva - para o bem e para o mal - nesta complexa, contraditória e inexplicável viagem rumo à morte que é a vida de toda pessoa. Por isso minha cultura é tão irregular, repleta de enormes lacunas, como que construída com restos de belíssimos templos cujos pedaços se encontram entre detritos e plantas selvagens. Os livros que li, as teorias que freqüentei, deveram-se a meus próprios tropeços com a realidade"

Sabato, Ernesto. Antes do Fim


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A memória é uma invenção.

Não há realidade objetiva; apenas um passado que se reconstrói como lembrança à medida que o presente vai adicionando (ou depurando) significados. Não há memória intacta, assim como não há acontecimento cujas bordas não sejam comidas pelo tempo.

Náufragos de nossas próprias histórias, mergulhados até o pescoço em ressonâncias que sequer conhecemos, nos atamos a pequenos fragmentos de vida. Onde o dia não é azul, mas também nem é tão cinza. Ou, ao contrário, onde as nuvens estão grávidas de água, prontas para parir lamentos ancestrais. Não importa.

Cinza chumbo ainda é melhor que cor nenhuma. Melhor que uma vida que passe em brancas nuvens.

1 comentário:

Anónimo disse...

Oi Lú,

Realmente é melhor cinza chumbo que deixar a vida passar em branco!! E vivendo longe de casa percebemos o quanto somos felizes lá.
Quantas cores passam por nosssas vidas e pouco damos importância. Chuva, Sol, não importa, o que interessa é sabermos que existe o arco-íris!!
Bjos
Giorgia