sábado, 4 de outubro de 2008

Um poema sem respiração


Um poema tem urgências
Que meus espasmos não contém

Nascer é sua natureza

Como uvas ao sol
O poema escorre, quente, entre os dedos
Sempre que está maduro

Arrancá-lo fora da hora é perder sua pulsação

***

Assustou-se
Saiu das entranhas, mas não foi longe

O poema parou a meio do caminho

Como um estranho bebê
Recusou-se a sair

E eu deixei que morresse
Meu lindo poema
A um passo do oxigênio, preso no cordão

Preso por um fio
O pequeno feto-poema
já não respira

No lugar de uvas, uma seca noz
pende sem vida do meu corpo

***

Encontrei esta foto por acaso no google. A intenção de quem a postou não era a mesma. Mas a foto não podia ser mais oportuna.
Fonte: http://os-caes-ladram-e-a-caravana-passa.weblog.com.pt/arquivo/uvas.jpg

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