domingo, 28 de setembro de 2008

Bordas duras de um corpo ignorado


Outono. Folhas caem naturalmente das árvores.

***

Nenhuma violência ou artificialidade no ato de despregar-se.
Nenhum grito ou expressão de incômodo.

Caem como se o trajeto ao chão fosse uma evidência indolor.
Ou como se as folhas, tendo pálpebras,
se fechassem diante de um destino inevitável.

Sorrateira e harmoniosamente, as folhas gestam sua despedida.

Como quem borda uma colcha,
preparam o chão para seus frágeis corpos.
Quase inexistentes de tão leves
Mas suas bordas espetam com um fim muito claro:
dar um último e silente grito.

Um último e silente grito.
Antes de se perderem nos metálicos ruídos inumanos

3 comentários:

Navegar é preciso, viver não disse...

Apesar de transpor toda a dor, este poema é de expontaneidade que somente as emoções primárias, como tão bem você se refere, são capazes de levar a maior de todas as traduções: a de nós mesmos.

Anónimo disse...

Poucas vezes percebi uma tradução tão perfeita de um estado de espírito regido pelos movimentos do tempo que faz lá fora...o que te torna cada vez mais linda, como lindo é o outono pra quem tem olhos de ver.

Anónimo disse...

Amiga Querida,

Lendo seu poema, pensei o quanto devemos aprender com as folhas a nós despregar suavemente de tantas coisa na vida.
Obrigada pela reflexão.
Adorei.
Saudades...
Beijos