
Outono. Folhas caem naturalmente das árvores.
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Nenhuma violência ou artificialidade no ato de despregar-se.
Nenhum grito ou expressão de incômodo.
Caem como se o trajeto ao chão fosse uma evidência indolor.
Ou como se as folhas, tendo pálpebras,
se fechassem diante de um destino inevitável.
Sorrateira e harmoniosamente, as folhas gestam sua despedida.
Como quem borda uma colcha,
preparam o chão para seus frágeis corpos.
Quase inexistentes de tão leves
Mas suas bordas espetam com um fim muito claro:
dar um último e silente grito.
Um último e silente grito.
Antes de se perderem nos metálicos ruídos inumanos