sábado, 16 de agosto de 2008

Amor Listrado


Assustadora a possibilidade de se estar, pra sempre, atrelado a alguém. Como Sylvia e Ted.

Um olhar. E tudo dito na escassez de palavras.

Palavras como peixes que se afogam no ar; a água pra sempre longe do seu alcance.

Colhidas no chão, feito folhas mortas, as palavras já não servem. Sem um corpo vivo, desmancham-se a um passo do sentido. Só que não se pode abortá-las.

Pontiagudas como lascas de maçã, arranham a garganta. Não descem. Vomitá-las também já não é possível.

Mas as palavras são astutas. Têm sabedoria de almoxarifado, como diria Adélia. Liquefazem-se nos olhos, retirando o verniz cotidiano das retinas.

Não importa que o tempo não volte. O amor será para sempre listrado.

***

Na foto, Sylvia Plath e Ted Hughes. Amor conturbado, perene, de retina.

Sem comentários: